
Quando se pede uma pizza, um hamburguer ou outra iguaria em regime “home delivery” é natural abrir a porta ao entregador, pagar, receber o produto, agradecer e ir para a sala, cozinha ou quarto saborear a comida.
No entanto, no Brasil, mais concretamente na pequena cidade de Vila Velha, a história é diferente, pois a maior parte das pessoas que abre a porta ao entregador depara-se com Esquiva Falcão.
Mas, o que é que faz um conceituado pugilista, vice-campeão olímpico, entregar pizzas e afins?
A resposta é simples e vem do próprio: “Sou pugilista profissional, mas não combato desde o mês de fevereiro, pois está tudo parado no mundo do boxe; já no ano passado tive poucos combates e até tive de vender a minha medalha olímpica”.
“Tenho mulher, dois filhos para sustentar e uma casa para pagar e a ideia surgiu na passada semana; tínhamos encomendado uma pizza e não gostámos nada; uns dias depois, a minha mulher disse que ela própria fazia uma pizza melhor e fez; ficou maravilhosa e os miúdos adoraram”, disse Esquiva Falcão.
O famoso pugilista continuou a sua história de vida, referindo que “como temos contas para pagar, que tal fazermos nós uma empresa de entregas de comida; publicitei tudo nas redes sociais e o telefone não parou de tocar”
“Já há patrocínios a caminho mas não quero falar muito disso para não dar azar, mas a verdade é que há empresas interessadas a trabalhar connosco”, declara o pugilista quando se fala no crescimento do negocio.
Para já, “faço eu as entregas, pois tenho motorizada. conheço a cidade, estava em casa sem fazer nada e assim vamos ganhando algum dinheiro e colecionando sorrisos, fotos e autógrafos; quanto às pizzas são feitas com todos os cuidados de higiene pois estamos quase sempre de máscara e de viseira”.
Mas quem é Esquiva Falcão?
Filho de Touro Moreno, conhecido boxeur brasileiro dos anos 80, Esquiva tinha 8 irmãos e passava muitas dificuldades na infância; aos 6 anos, passou a acompanhar o pai nos combates que este fazia por toda a América do Sul.
Anos mais tarde, o agora atleta brasileiro fez uns treinos de captação num clube, mas não foi escolhido, pois era novo demais e no Brasil só se pode lutar a partir dos 18 anos.
Numa entrevista ao GloboEsporte feita em 2011, Esquiva disse que “o facto de não ter sido escolhido foi muito mau para mim e fez a minha cabeça; comecei a consumir drogas e a vender, até que o meu pai descobriu e felizmente afastou-me desse mundo”.
Para se afastar das drogas, Esquiva mudou-se para o Rio de Janeiro, entrou na Academia de Raff Giglio, no morro do Vidigal e nunca mais parou de praticar pugilismo.
Aos 21 anos conquistou a medalha de Bronze nos Jogos Sul-Americanos e assegurou outra medalha de Bronze no Campeonato de Boxe Amador (Pugilismo).
No ano seguinte, foi com esperanças redobradas aos Jogos Olímpicos Londres’2012 e saiu de lá com uma medalha de Prata (perdeu na Final com o japonês Ryota Murata), tornando-se no primeiro brasileiro a ganhar uma medalha de Prata olímpica na modalidade de Pugilismo.
Depois deste feito, Esquiva passou a ser o menino bonito e foi o porta-estandarte na Cerimónia de Encerramento dos Jogos ingleses
A partir daí, Esquiva passou a ser boxeur profissional e em 28 combates conquistou 28 vitórias, 20 das quais por KO.
No entanto, a pandemia provocada pela Covid-19 veio estragar os planos de toda a gente e Esquiva não escapou, pois desde março de 2020, que o brasileiro fez apenas 2 combates: contra o compatriota Morrama de Araújo, em São Paulo, e frente ao russo Artur Akavov, em Las Vegas.